sexta-feira, 17 de setembro de 2010

(Villas-)Boas surpresas

Após mais um jogo no Dragão, o oitavo consecutivo a vencer e, sinceramente, a ser claramente superior em relação às equipas que defrontamos esta época, é natural que comecemos a pensar em grandes conquistas para esta temporada. Mais ainda quando a competição europeia em que nos inserimos tem gravada na nossa última participação um dos momentos mais bonitos e emocionantes do nosso Clube. Mas vamos por partes.

Para mim, há um culpado para toda esta transformação em relação à última temporada: André Villas-Boas. A forma de estar em campo, a ligação entre sectores (principalmente do meio campo para o ataque, que o ano passado era praticamente inexistente), a própria ocupação dos espaços e a atitude da equipa (menos expectante relativamente às equipas do Professor Jesualdo Ferreira) parecem-me muito mais adequadas à realidade da Liga Portuguesa relativamente à forma de jogar da nossa equipa no passado recente. Não quero no entanto desprestigiar o trabalho do Professor que, independentemente de críticas, nos deu bastante enquanto timoneiro da nossa equipa e, também por isso, merece a minha consideração e admiração.

Voltando a falar da nossa equipa, creio que Villas-Boas acima de tudo entende os adversários, faz um trabalho fantástico de preparação de cada jogo (tem largos anos de experiência neste campo, o que também ajuda) e, até ver, não se tem comportado nada mal na leitura de jogo no decurso do mesmo. No trabalho de campo, há sinais claros do dedo do nosso novo treinador. Na baliza, Helton surge com uma confiança ainda maior do que em anos anteriores (a braçadeira parece ajudar no processo). A nossa defesa apresenta preocupações posicionais semelhantes às do ano anterior, mas uma atitude muito menos passiva, mais agressiva (no bom sentido), mesmo tendo perdido o seu "patrão". Sapunaru foi recuperado (ele que me desculpe, mas eu continuo com algumas dúvidas relativamente às garantias que nos poderá dar) e Maicon ocupa para já sem reparos de maior a pesada herança que Bruno Alves deixou. No meio campo (para mim, o sector onde mais se notam as diferenças), João Moutinho é bem mais posicional do que Meireles, menos vertical, com um passe mais curto. Fernando ocupa espaços mais subidos no terreno, com uma atitude mais agressiva, bem ao seu estilo. O que permitiu a recuperação de uma das principais figuras deste arranque de época: Fernando Belluschi! No esquema táctico da época transacta, o nosso 7 perdia-se em terrenos mais recuados, em trabalhos de recuperação de bola e ocupação de espaços, que não são, nem de longe nem de perto, propícios às suas características. Belluschi é um jogador de último passe, para jogar próximo do trio ofensivo, para estar próximo da área. A ligação que já aqui referi do meio campo com o trio ofensivo passa muito, na minha opinião, pelas novas funções deste argentino.

No ataque, o Porto coloca mais jogadores em terreno ofensivo, o que permite mais linhas de passe e, consequentemente, maior possibilidade de desequilíbrio aos nossos artistas do um-para-um - Hulk, principalmente, mas também Varela, Christian Rodriguez ou o próprio Ukra. Continuo expectante relativamente a James e Walter, dois jovens de quem muito se falou e a quem Villas-Boas parece estar a dar tempo de adaptação, sem querer queimar etapas na sua integração.

Oito vitórias consecutivas são já uma realidade, mas o que está para vir não é fácil e o caminho é longo. Villas-Boas não tem parado de salvaguardar a primeira derrota nas conferências de imprensa (outro parâmetro cada vez mais fundamental no dia-a-dia de um treinador e onde, também aí, André tem sido claramente superior aos seus "oponentes", os jornalistas). E esta preparação será fundamental para que a equipa encare essa derrota, que acabará certamente por surgir, com naturalidade e facilmente volte a adquirir dinâmica de vitória.

Por fim, e porque as comparações do nosso treinador com Mourinho são sempre efectuadas, gostaria de chamar a atenção para algo a que ainda não vi qualquer referência. Quando chegou ao Porto, o actual treinador do Real teve meia época para trabalhar com parte dos jogadores que estiveram consigo no ano seguinte, começar a construir as bases da equipa que nos levou ao sucesso em Sevilha e Gelsenkirchen. O nosso treinador chega no final de uma época, encontra uma equipa com rotinas de outro treinador e confere-lhe um cunho pessoal precisamente em factores que eram o ADN na equipa do Professor Jesualdo. Para mim, este factor é ainda mais meritório.

E agora a Madeira, onde outros já caíram e nós continuaremos a demanda para reaver algo que é nosso: o título de Campeão Nacional!

P.S. Como adepto, o mínimo que posso exigir a um Clube como o nosso quando disputa uma competição como a Liga Europa é a vitória! Quem mais do que nós, entre as equipas que estão nesta competição, está habituado a jogar a Champions, chegando quase sempre à 2ª fase da competição? Temos estruturas a todos os níveis para vencer (novamente) a 2ª competição mais importante da Uefa. A ver vamos que outras Boas surpresas o André tem para nós!

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